Evento discutiu o fortalecimento de redes de acolhimento e perspectivas para garantia de um futuro saudável para essas populações
“A rua foi a minha faculdade. Foi onde aprendi a fazer coisas que faculdade nenhuma ensina. Meu caráter, minha essência foi o que me fez sobreviver a 42 anos na rua. Fui aprendendo a fazer as coisas com a ajuda de muitas pessoas. Cheguei aonde cheguei com muita sabedoria e humildade”. A potência do relato de Sebastião Soares foi uma das motivações para a realização do evento “O Amanhã”, painel que discutiu “As políticas de acolhimento sobre o envelhecimento da população LGBTQIA+ e da população em situação de rua”.
Realizado no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, nesta terça-feira (14/11), o seminário buscou valorizar as experiências e as potencialidades dessas pessoas, bem como promover o respeito à diversidade e aos direitos humanos. O evento buscou ainda apresentar as perspectivas futuras para proteção dessas populações que estão envelhecendo ou que irão envelhecer em Minas Gerais, considerando as especificidades e as vulnerabilidades desses grupos.
Escuta ativa para políticas públicas mais assertivas
A iniciativa da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese-MG) buscou aproximar especialistas e organizações, e contribuir com o fortalecimento das ações e políticas do Governo de Minas que promovem a melhoria da qualidade de vida das populações, sobretudo de LGBTQIA+ e das pessoas em situação de rua.
A secretária de Estado da Sedese, Elizabeth Jucá, destacou o encontro como uma oportunidade para ouvir a sociedade a fim de que se desenvolva e aprimore políticas de estado. “Nós estamos aqui para fazer uma escuta ativa que é muito importante para nós para construção de políticas públicas. A partir do que escutarmos aqui vamos fazer uma discussão interna com todos os atores dentro do estado para poder levar essa construção para os municípios. Aí a gente consegue ter uma política pública assertiva para aqueles que mais necessitam”, pontuou Elizabeth.
O subsecretário de Direitos Humanos, Duílio Campos, reforçou que o processo de transformação etária é um desafio, sobretudo na perspectiva da garantia e proteção de direitos. “Pensar o envelhecimento ativo e saudável da população, especialmente sob a perspectiva das pessoas em situação de rua e de LGBTQIA+ é um diferencial muito grande que o gestor público e a sociedade em geral precisam se atentar. Esse é um momento de escuta que a gente precisa ampliar cada vez mais e interiorizar, porque nós iremos perceber realidades muito diferentes”, completou.
Mesa de Diálogo
O evento foi dividido em uma mesa de abertura que destacou os avanços nas políticas públicas para as populações em questão, e duas palestras onde foram apresentados os panoramas do envelhecimento na perspectiva da pessoa em situação de rua e os aspectos de gênero e construções sociais para a população LGBTQIA+.
“A realização desse evento tratou de uma agenda relevante para o fortalecimento da rede de enfrentamento aos problemas inerentes ao aumento da expectativa de vida da população brasileira, em especial as pessoas em situação de rua e as pessoas LGBTQIA+”, destacou Rodrigo Marques da Costa, diretor Estadual de Políticas para a Pessoa Idosa da Sedese. “É imprescindível a participação da sociedade civil, do governo e de outros atores nessa formação de um conhecimento, de uma promoção de qualidade de vida digna e saudável para esses públicos”, completou.
Para a diretora Estadual de Políticas de Diversidade Walkíria La Roche, “a população LGBTQIA+ e de pessoas em situação de rua merecem uma discussão específica e o painel vem como uma ação do Governo de Minas diante da necessidade de criar e aprimorar políticas públicas voltadas para essas populações”, salientou.
Importância
De acordo com dados das Nações Unidas (ONU), na atualidade uma a cada nove pessoas tem 60 anos ou mais e, até 2050, a estimativa é de que haja uma pessoa idosa a cada cinco. No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos mais que dobrou entre os anos de 1991 e 2011. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 2025 o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos.
A fim de discutir essa realidade, a Sedese promoveu o debate sobre o envelhecimento saudável e perspectivas para melhorar a vida das pessoas idosas, de suas famílias e comunidades. A ação buscou escutar a sociedade para apresentação de possíveis soluções que minimizem o sofrimento da população 60+, como o aprimoramento de mecanismos e políticas públicas para proteção e garantia de direitos.
O presidente do Conselho Estadual da pessoa idosa, Renato Gregório de Jesus, salientou que a iniciativa da Sedese traz “mais peso e possibilidade para conseguirmos caminhar positivamente em prol de efetivação de políticas públicas que atendam àquilo que as pessoas merecem, precisam e desejam”.
“A ideia do painel foi a de conversar sobre a questão das pessoas em situação de rua que acabam envelhecendo na rua. Encontramos pessoas que estão há 20, 30 anos em situação de rua e passam a vida nesse processo. Então, é importante que a gente traga luz para esse olhar da população e seus direitos”, pontuou Luiza Mara, diretora Estadual de Políticas para a População em Situação de Rua e Catadores de Materiais Recicláveis da Sedese.